Mário de Carvalho !

Regressar à Página Principal !

Biografia Obra Prémios Comentários Entrevistas Livros Outros Links
 

Mário de Carvalho !

     E porque já vamos na página dezoito, em atraso sobre o momento em que os teóricos da escrita criativa obrigam ao início da acção, vejo-me obrigado a deixar para depois estas desinteressantes e algo eruditas considerações sobre cores a arquitecturas, para passar de cofre ao movimento, ao enredo. Na página três já deveria haver alguém surpreendido, amado ou morto.

Era Bom que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto

 

 
Dados Biográficos

Volta ao Inicio !

         Nasceu em Lisboa, em 1944. Formado em Direito pela Universidade de Lisboa, inicia durante o curso actividade política, envolvendo-se nas lutas estudantis que em Portugal se produziram na década de 60. Mais tarde, já durante o serviço militar, é preso também por razões políticas, tendo partido para o exílio em 1973 e regressado a Portugal após a revolução de Abril de 1974.

Advogado e jornalista, estreou-se como escritor no volume antológico Mar, publicando no ano seguinte o seu primeiro livro (1982). Desde então tem mantido um ritmo de publicações e um nível de recepção crítica e pública das suas obras que o situam entre os mais importantes ficcionistas portugueses da actualidade.

Senhor de um grande domínio da língua, de um estilo que não se consegue situar em escala alguma e onde se sentem influências de grandes mestres clássicos da literatura portuguesa, como Camilo e Garrett, num registo que no entanto se destaca pela sua extrema modernidade, Mário de Carvalho percorre uma variedade de temas, géneros e tempos históricos com a sua aparente facilidade, cultivando um registo frequentemente irónico, e mesmo humorístico, com várias incursões pelo domínio do fantástico.

A sua obra como dramaturgo é igualmente uma das mais interessantes surgidas na última década em Portugal, tendo sido levadas á cena peças suas pelo grupo O Bando, Novo Grupo e Teatro da Malaposta. Mário de Carvalho é ainda autor de diversos guiões, diálogos e adaptações para televisão e de guião para cinema.

 

Obra

Volta ao Inicio !

 
Ficção:
Contos da Sétima Esfera (1981)
Caso do Beco das Sardinheiras (1981)
O Livro Grande das Tebas Navio e Mariana (1982)
A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho (1983)
Fabulário (1984)
Contos Soltos (1986)
Era Uma Vez um Alferes (1989)
E se Tivesse a Bondade de me Dizer Porquê (1986)
A Paixão do Conde de Fróis (1986)
Os Alferes (1989)
Quatrocentos Mil Sestércios, seguido de O Conde Jano (1991)
Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde (1994)
Era Bom que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto (1995)
Teatro:
Água em Pena de Pato(1991)
Haja Harmonia (1997)

 

Prémios

Volta ao Inicio !

 
  • Prémio Cidade de Lisboa
  • Prémio D. Dinis, da Fundação Casa de Mateus
  • Grande Prémio do Conto da Assoc. Port. de Escritores (1992)
  • Grande Prémio de Romance e Novela da Assoc. Port. de Escritores (1995)
  • Prémio Fernando Namora (1996)
  • Prémio Pégasso da Literatura (1996)

 

Comentários

Volta ao Inicio !

Pela sua universalidade, pela sua perenidade das questões que suscita, Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde é um romance imprescindível. Imprescindível a todos os que acreditam que o romance permite pe(n)ar o homem no tempo. Antecipando-se ao já pensado. Enquanto aguardamos os bárbaros.

Margarida Braga Neves
Jornal de Letras

Implacavelmente divertido, um retracto corrosivo dos fenómenos sociais ocorridos na vida portuguesa da última década. Era Bom que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto fala de coisas tão próximas de todos nós: os jornalistas, o "design", o P.C.P., a Igreja Católica, os assaltos, as fundações, a prostituição. A ironia da Mário de Carvalho não tem limites.

Público

Agora a sério: há muito que um livro não me diverte tanto. Ri até ás lágrimas, assim mesmo, no sentido literal da frase, que com riso e lágrimas se lê e escreve esta comédia trágica que é a vida.

Clara Seabra
Expresso

 

Entrevistas

Volta ao Inicio !

0 pós-moderno

«Fabulário», de Mário de Carvalho, um Iivro de pequenas ficções, foi reeditado pela Caminho. Nele se percebe como a ficção e a vontade de contar sempre presidiram à obra deste escritor que é apesar disso ou por causa disso, absolutamente (pós)moderno.

Há quase duas décadas que Mário de Carvalho vem publicando a sua ficção, mas só o recente êxito de «Um Deus Passeando pela Brisa da Tarde» (1994) Ihe permitiu ultrapassar a reticência em se assumir com um escritor. Apesar do sucesso tardio, a seu talento literário e a sua importância na literatura portuguesa já vinham senda reconhecidos pelos mais atentos. E fácil detectar a razão da relevância da obra de Mário de Carvalho: mais do que um romancista ou um contista trata-se de um dos mais consumados ficcionistas portugueses, de um autor cujos textos giram em torno da ideia de ficção. E isso não é de modo nenhum tautológico: a centralidade da ficção na escrita resulta da destruição e da desconstrução do romance. Observa-se que depois destas operações ainda resta qualquer coisa: uma matéria verbal - a texto - ou uma construção imaginativa - a ficção.

Dito de outra forma: da desconstrução do romance tradicional (personagens, enredo, sequência cronológica, psicologia, realismo) resulta ainda urna essência (chamamos-Ihe assim) que é a vontade de contar histórias. Conclusão paradoxal, visto que tantas vezes o confronto entre entendimentos do romance se centra na oposição entre a necessidade de contar ou não contar histórias. Polemica com o seu lado equivoco, afinal, porque para além de alguns adeptos os mais ortodoxos do (<nouveau roman» ninguém abdicou de contar historias.

Mas histórias diferentes no modo de contar, na estrutura, no estilo, na sequência. Histórias com principio, meio e fim mas, parafraseando Godard, não necessariamente por essa ordem.

Mas o que é afinal a arte de contar? É uma vontade de contar. Não tanto da parte do público que deseja ler histórias, mas da parte do autor que tem urna vontade de contar essas histórias, de contar o que quiser e como quiser. E assim a impulso ficcional volta ao inicio, mas transformado pelos debates e mudanças no género romanesco. Sem esquecer evidentemente outras formas de ficção corno o conto, porque o conto é a forma privilegiada de contar histórias.

Mário de Carvalho e um dos autores que mais exemplarmente tem representado essa vontade de narrar. No seu caso isso confunde-se com a escrita da chamada pós-modernidade. Sem entrar na discussão do termo, digamos que a obra de Mário de Carvalho se insere na "literatura da exaustão" de que falava John Barth: uma literatura que personifica mas ao mesmo tempo ultrapassa a exaustão do literário. Mário de Carvalho escreve contos, novelas e romances, alterna ficções de documentada reconstituição histórica. com paródias sobre o quotidiano, histórias fantásticas com divertimentos, crónicas realistas com delírios fantasistas e insólitos, viagens ao imaginaria mitológico com interrogações sobre dilemas políticos contemporâneos. A sua escrita - sem grandes paralelos na literatura portuguesa obedece a um principio de estilo, a uma mistura hábil de metaficção, ironia, distanciamento, numa permanente mudança de registo em que é notório o prazer lúdico e a efabulação, fazendo da sua obra uma leitura estimulante e imprevisível só comparável, entre os autores da sua geração, a Luísa Costa Gomes.

Não existe grande carga ideológica na ficção de Mário de Carvalho, que não se leva suficientemente sério para se tornar didáctica (o que se compreende bem se pensarmos na atitude auto-irónica que preside a «Era Bom que Trocássemos unas Ideias sobre a Assunto» (1995), que explicitamente analisa as relações com o Partido Comunista). Quer isto dizer que a sua prosa não é demonstrativa e que a forma de expressar convicções e mundividências se faz de forma indirecta, geralmente irónica. Assim normal que recorra a géneros ficcionais curtos que tendem a funcionar como parábolas. Um bom exemplo é «Fabulário», agora reeditado pela Caminho (o livro fora publicado pela & ETC em 1984). «Fabulário» é, como título, todo um programa ou melhor, a nomeação de um impulso ficcional. Em rigor estes textos são efabulações e não fábulas: embora existam textos com animais o tom do livro não é a fábula mas a parábola, em fragmentos como este:

«Um homem quis ir até ao fim do mundo e foi.

Em uma grande fatia que dava para um abismo.
- Mas onde é que fica mesmo o fim do mundo? - duvidou o homem
- Aqui ou Iá em baixo?» (pág. 13)

Neste texto, como noutros, o aparente absurdo liga-se ao trágico e ao histórico - é isso a melhor deste livro, que é menos feliz quando tenta o absurdo satírico ou se aproxima da escrita automática. Na verdade, há trechos de «Fabulário» que se diria terem como modelo os «Cantos do Gin Tónico» de Mário Henrique Leiria. Mas Mário de Carvalho não e um surrealista e não consegue atingir a magnifica desordem, improviso e provocação desse livro chave do surrealismo português. «Fabulário» vem mostrar como a prosa muito curta é fragmentária é sumamente difícil mesmo para quem domina a arte do conto. Trata-se de um livro menor que em nenhum momento iguala a que a escritor tinha conseguido em excelentes colectâneas como «Contos da Sétima Esfera» (1981) ou «A Inaudita Guerra da Avenida Gago Coutinho» (1983).

Há no entanto, neste livro algumas características apreciáveis, que Ihe garantem algum valor e que ilustram características habituais na abra de Mário de Carvalho. Em primeiro lugar, a invocação explicita do já citado impulso ficcional - uma historia começa mesmo «era uma vez» e uma sequência de onze textos inicia-se sempre com «certa vez», Em segundo lugar, a gosto de localizar a acção em épocas históricas diferentes, muitas vezes imaginando países, eventos e nomes bizarros, num alheamento face a um realismo de estrita observância: aqui tudo acontece no lugar que o narrador inventa. Finalmente, o desenhar de um lado mais seria de todas as histórias - assim como a escrita da pós-modernidade se constrói com o que permanece depois da destruição, assim o mais pertinente na escrita de Mário de Carvalho se mantém depois do evidente prazer lúdico da escrita e da leitura. E isso consubstancia-se num entendimento um pouco mais grave, que se aproxima de uma certa moralidade (não de um moralismo) e mesmo de uma tonalidade trágica (que é a que a pós-modernidade tenta superar mas a que afinal apenas dá outra voz, mais subterrânea). Vejamos esta história trágico-marítima de um país nada imaginário:

«0 rei de um país estava cheio de tédio, de maneira que ordenou a mobilização geral e decidiu invadir a Índia, que ficava longe. Foram muitos anos de guerras e conquistas, o rei sempre à frente. E conquistou a Índia.
Mas quando o rei quis regressar com o seu exército, já ninguem se lembrava de onde ficava o seu país.
Tinham-no perdido.» (Pág. 23)

Arquivos de leitura (Diário de Noticiais)

 

Livros

Volta ao Inicio !

 

A Paixão do Conde de Fróis !

A Paixão do Conde de Fróis

Tupa que tupa, passo medido e aprumo impante se formou ali ao fundo um grupo que veio vindo para a praça, a chouto de parada, com os dois oficiais designados á frente, seguidos pelos porta bandeiras, com o lírio francês e o leão espanhol e mais uns cavaleiros bem empenachados e atreviados. (…)
212 páginas
1986

Era bom que trocássemos umas ideias sobre o assunto !

Era bom que Trocássemos umas Ideias sobre o Assunto

Este livro contém particularidades irritantes para os mais acostumados. Para os mais acostumados. Ainda mais para os menos. Tem caricaturas. Humores. Derivações. E alguns anacolutos.
224 páginas
1995

O Livro Grande de Tebas Navio e Mariana !

O Livro Grande de Tebas Navio e Mariana

"Este livro foi escrito vai para 20 anos. Ao revê-lo, agora, não raro me senti no limiar da profanação … mas … não arroguei o direito de bulir com as opções dum autor de 30 anos que não exactamente eu …". São palavras com que Mário de Carvalho apresenta esta nova edição.
1982

Fabulário !

Fabulário

No país hiperbório veio de lá um homem e disse: "Tivesse eu uma alavanca e levantava o mundo!" Veio o outro e disse: "Tivesse eu um mundo e levantava alavancas". Aqui começou a mais àspera desde sempre guerra religiosa.
1984

 

Outros Sites

Volta ao Inicio !

www.editoral-caminho.pt/ed_literatura_estrangeira/a_000200.html

www.editoral-caminho.pt/ed_literatura_estrangeira/a_000269.html

www.mediabooks.com

www.instituto-camoes.pt/arqvliteratura/posmoderne.htm

www.liv-arcoiris.pt/bienal98/bibibliografia/paginas/m_carvalho.html


Última Actualização: 27-10-2011
Sugestões ao Webmaster